No seguimento da Revolução de Abril de 1974, a sociedade portuguesa verificou uma forte expansão do movimento associativo em diversos domínios da vida social, com a criação e/ou redinamização de milhares de associações e coletividades, muitas das quais assumiram um papel decisivo na educação e formação de um número muito significativo de jovens e adultos e no desenvolvimento de importantes dinâmicas educativas locais, configurando o que Canário (2007, p. 11) identifica como o “período de ouro da educação de adultos em Portugal”.
No Concelho da Sertã a Freguesia do Cabeçudo com 9,95 km2 de área e 906 habitantes (2021), tem cerca de 91 habitantes por km2, foi criada há vinte anos uma Associação graças ao Pároco da altura, o Sr. Padre Miguel Farinha hoje com 79 anos, um apaixonado pelo futebol que foi também o impulsionador da construção do campo de futebol do Cabeçudo.
Nesta zona do interior do País onde reina a acalmia típica das zonas rurais podemos visitar a Quinta de Santa Terezinha, a fonte datada de (MDCCXXII), a Igreja Matriz, o campo de jogos, o eucalipto centenário a Capela de Santo Estevão, podemos ainda usufruir da grandiosa festa que se realiza todos os últimos fins de semana do mês de agosto a Festa em honra da N.a Sr.a da Piedade – Stº Estevão, festividade que não se realiza desde o surgimento do vírus (Covid-19) que obrigou cessar todas as atividades culturais.
Esta Freguesia conta ainda com duas estruturas sociais profundamente importantes para a população; o Centro de Dia que acolhe os idosos protegendo-os da solidão, a Escola Básica e o Jardim de Infância que de tão próximos trocam as gargalhadas das crianças no recreio da escola com o sossego dos mais velhos.
Foi neste contexto que nasceu há 20 anos a Associação Cultural, Recreativa e Social da Senhora da Piedade esta associação dedica-se ao setor cultural e recreativo e tem a responsabilidade de promover atividades dedicadas ao convívio onde ao longo do ano se junta a população para desfrutar de atividades muito distintas.
Este trabalho de intervenção social, está direcionado para o lúdico onde se sente a hospitalidade destas gentes, a união da população a partilha de saberes e onde é estimulada a relação entre as diferentes faixas etárias.
Como podemos ler na página do facebook “Associação do Cabeçudo, uma Instituição criada pelo Povo para o Povo, Recebe e Promove Eventos para toda a Comunidade da Região Centro” rede social muito usada para dinamizar as atividades e esclarecer os sócios referiu o atual Presidente da Associação Sr.º Jorge Manuel Ferreira Pires, que nos explicou que há eleições de dois em dois anos dos órgãos sociais e que é desta forma que fica criado o grupo responsável pela dinamização, organização e gestão de tudo o que está inerente à Associação.
As atividades que se realizam ao longo do ano, preferencialmente uma ou duas por mês, são tão diversas como; bailes, passeios de motorizadas, homenagens e atividades comemorativas do dia da mulher, participação do carnaval do Outeiro da Lagoa (no ano 2020 com A brigada do Reumático), rota das adegas, dia do sócio, torneio de sueca, passeio pedestre, festa do Cabeçudo, magusto e muito mais, todas ligadas á época e estação do ano vivida na altura.
As atividades grupais cumprem e preenchem uma necessidade referenciada na pirâmide de Maslow (a necessidade social), que é a necessidade de nos relacionarmos com pessoas, comunicar, partilhar emoções e descobertas, o afeto acompanha o desenvolvimento do indivíduo, o equilíbrio social e promovem a saúde física e mental. Quando estas necessidades são satisfeitas existe na pessoa, uma predisposição positiva em qualquer papel que ocupe na sociedade (na família, no trabalho com amigos e até com desconhecidos) é desta forma que atingimos a estima, e nos sentirmos dignos, autoconfiantes, independentes, autónomos, apreciados, respeitados por nós e pelos outros, com prestígio, reconhecimento, poder e orgulho.
Pertencer, colaborar, fazer parte de uma Associação desta natureza ainda que de forma mais passiva do que ativa é uma forma de cidadania e de partilha de experiencias de vida e de conhecimentos. Neste território tão ruralizado as pessoas dedicam muito do seu tempo às atividades agrícolas e á criação de animais tarefas que são por natureza solitárias, o convívio a alegria, as gargalhadas, alimentam e fortalecem o ser humano dando-lhe energia e boa disposição.
A Associação Cultural, Recreativa e Social da Senhora da Piedade tem conseguido unir a população envolvendo-a na realização das atividades e nas criação e manutenção do espaço físico da Associação onde se pode sentir o conforto e segurança para uns momentos de alegria e partilha.
Liderada por um grupo de pessoas dedicadas e responsáveis que primam por inovar na escolha das atrações culturais e na diversidade das atividades, já conseguiram trazer artistas a esta aldeia como o Quim Barreiros, Ruizinho de Penacova, David Antunes, Dj Silver Fox entre outros, “medido sempre muito bem as nossas possibilidades” como referiu o Presidente da Associação Sr. Jorge Pires.
Este trabalho iniciado há 20 anos vai continuar assim que a pandemia o permitir, porque as pessoas desejam estes encontros onde a alegria reina, onde se pratica exercício nas caminhadas que terminam com um almoço convívio na sede da Associação.
“Estamos todos com muita vontade de voltar a ter este espaço cheio de gente, sentir a alegria das crianças e dos mais crescidos também” referia o Presidente sorrindo e explicando que faz falta para todos, acrescentou que o trabalho não tem parado e que a cozinha está quase equipada para que na diversão e no convívio tudo seja ainda melhor.
Que não finde a vontade de continuar a “alimentar” esta ação de concretização de atividades coletivas sociais que são tão benéficas para todos onde a cultura o desporto, e sobretudo partilha de saberes e de amizade, fantasia e nutre o anseio do próximo evento.
Ana Vitorino, 06/08/2021
Fontes:
– Instituto Nacional de Estatística (Recenseamentos Gerais da População)
– https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes
– https://www.facebook.com/associacao.cabecudo/
– Canário, Rui (Ed.) (2007). Educação popular e movimentos sociais. Lisboa: Educa.
Ana Vitorino, 06/08/2021