A Igreja do Nesperal

A Igreja do Nesperal

 

 

Situada no cimo, onde o sol a ilumina todo o dia, a Igreja do Nesperal foi ao longo dos séculos intervencionada e ampliada conforme as posses e vontade do povo que sempre zelou com brio este espaço de devoção.

Sendo a Freguesia do Nesperal das mais antigas do Concelho da Sertã, a sua fundação será posterior á de Sernache do Bom Jardim porque já existiria em 1560 conforme afirma Cândido Teixeira, pág.163. Esta edificação de inicio, serviu de matriz a ermida de S. Pedro que já existia em 1535 como refere a carta de d`el-rei D. João III a qual terá sido dirigida a mordomos e fregueses para darem um bôdo (uma iguaria, um manjar) a pobres todos os anos.

Foi edificada pelos moradores pouco depois da criação da Freguesia de São Simão do Nesperal. Depois de intervencionada em 1630, o Grão-Prior do Crato, Sr. D. Francisco financiou em 1700 a reconstrução da capela-mor e da sacristia, por sua vez, as confrarias da mesma Freguesia mandaram fazer as molduras e painéis do teto da capela mor e a obra de talha, tanto do altar mor como dos dois altares laterais, no que gastaram 110.000 réis. As confrarias mandaram ainda pintar e dourar a referida obra de talha dos três altares citados, conforme se pode ler na pág.167 do livro “Antiguidades, Famílias e Varões Ilustres de Sernache do Bom Jardim e Seus Contornos” de Cândido Teixeira.

A igreja tinha em 1758 de acordo com as Memórias Paroquiais, quatro altares, onde se veneravam as imagens de S. Simão, N.a Sra. da Soledade, S. Brás, Santo António, Espírito Santo, N.a Sra. da Piedade, N.a Sra. do Rosário e S. Miguel. Em 1787 foram levadas a cabo obras no telhado e na torre do relógio. Porem, no ano de 1824. A população do Nesperal pediu ao Grão-Prior do Crato o “concerto e reedificação” da sua igreja matriz, “a qual se acha no mais deplorável estado de ruína e próxima a demolir-se de todo, pela falta de emadeiramentos e reparos que muito precisa”. A intervenção avançou no ano seguinte. Já em 1940 a torre da igreja foi também alvo de reparação.

Este templo é “digno de admiração” pelo seu recheio, destacando-se os quatro altares em talha do séc. XVIII, os painéis de madeira pintada anteriores ao séc. XVII, uma cruz processional de prata do séc. XVII e um artístico pálio do séc. XVIII.” (Lopes, 2013) pág.346.

 

Os edifícios de Cultos Religiosos, Igrejas Católicas, (que é o objeto do nosso estudo) para além do culto de adoração a Deus (latria; do grego, latria é um termo teológico utilizado pelas Igrejas Católica e Ortodoxa que significa o culto de adoração devida e dada somente a Deus, ou seja, à Santíssima Trindade), acolhem também o culto de veneração aos Santos (dulia; é um termo teológico que significa a honra e o culto de veneração devotados aos Santos) e à Virgem Maria (hiperdulia; é um termo teológico utilizado pelas Igrejas

Católica e Ortodoxa que significa a honra e o culto de veneração especial devotados a Nossa Senhora) são locais de culto oficial e publico que se manifesta através da piedade popular, que é o culto católico privado.

Dentro da piedade popular, que é de certo modo facultativa, destacam-se indubitavelmente as devoções; enquanto que na liturgia, destaca-se a Missa. Desta forma estes edifícios religiosos assumem um papel importante na sociedade, este local é de extrema importância para os católicos que ao longo das suas vidas comemoram momentos de muita alegria e também de tristeza. Sítio de encontros familiares e de amigos, as idas à igreja vão muito para alem da oração, da reflexão, da celebração de um batizado ou da despedida de um entrequerido.

A Igreja Católica tem uma estrutura hierárquica muito bem definida. De acordo com os n.º 874 a 877 e n.º 934 a 945 do Catecismo da Igreja Católica (CIC), publicado pela Constituição Apostólica do Sumo Pontífice João Paulo II Fidei Depósitum em 11 de outubro de 1992, a Igreja Católica está organizada hierarquicamente da seguinte forma: Papa, Bispos, que podem ser Arcebispos ou Cardeais, Padres, Diáconos e Leigos.

Da mesma forma que existe uma hierarquia no clero, também existe uma estrutura organizacional na Igreja Católica que é definida em função da territorialidade, que de acordo com as estruturas institucionais portuguesas se encontra organizada da seguinte forma: Santa Sé, Conferência Episcopal Portuguesa, Arquidioceses, Dioceses e Paróquias.

Em cada Paróquia existe o concelho paroquial e o conselho económico paroquial que tem como função a gestão responsável e assertiva dos bens dessa Paróquia.

Nos anos noventa as Paróquias foram constituídas por ordem do governo, como entidades com personalidade jurídica, entidades que fazem parte do setor da economia social por força do art.4º da Lei n.º 30/2013, devem evidenciar essa transparência, quanto à origem e destino dos seus recursos, divulgando a sua informação económica e financeira a todos os interessados.

Nos anos noventa, por ordem do governo, foram registadas nas finanças como: Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de…todas as Paróquias do País.

Para efeitos normais, esta é a Paróquia do Nesperal. É assim que foi criada na Igreja e mantém esse título. Só a nível de estado é que é denominada de Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia do Nesperal.

Esta Igreja do Nesperal, deste o primeiro momento da sua edificação tem vido a ser intervencionada no sentido de a tornarem um espaço mais seguro e mais acolhedor para os seus fiéis. Analisando a cronologia da sua existência podemos verificar que terá sido edificada antes de 1535 e em 1630 sofreu obras de ampliação e melhoramento já em 1700 foi reconstruída a capela-mor e a sacristia. Em 1824 a população levantou a voz para pedir obras alegando o estado avançado de degradação e elas realizaram-se em 1825, em 1940 foi a vez da torre sineira da Igreja do Nesperal ser reparada, desde esses tempos a Igreja a cada ano que passava mostrava sinais de degradação que se iam evidenciando com o passar dos anos.

Na Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Nesperal, fazia parte do Concelho Económico, que está em funções três anos, (podendo cada membro participar em dois mandatos ou seja seis anos, depois dar lugar a outros que estejam disponíveis para assumir esta responsabilidade), o Sr. Fernando Mendes Vitória casado há 59 anos com a D. Maria dos Anjos.

 

O estado de desleixo e esquecimento da Igreja do Nesperal era visível e sempre que falava com o seu cunhado, o Sr. José Nunes Leitão (Capitão Leitão) como gosta de ser chamado, lhe dizia que era urgente fazer obras de restauro em toda a estrutura da Igreja. Um dia este tema foi de novo assunto de conversa e o Sr. Fernando perguntou ao cunhado qual a quantia que ele pretendia doar para a realização destas obras, visto que a conta bancária não tinha a quantia necessária para que isso se tornasse uma realidade.

Prontamente o Capitão Leitão respondeu que doaria 50 mil euros, uma importante ajuda, mas ainda assim para se fazer a intervenção pretendida, não era o suficiente, e foi aqui que entrou de novo o povo desta Freguesia. A união faz a força e quando todos querem a obra realiza-se. Foi graças á dedicação e persistência da D. Maria dos Anjos que se amealhou o restante necessário para a obra, “e agora sim, já acreditámos que a nossa Igreja se ira transformar num espaço de devoção lindo”, referia a D. Maria dos Anjos quando nos deu o prazer de nos receber, para nos contar como foi que tudo aconteceu.

A responsabilidade deste restauro foi entregue a uma empresa de Braga de reparação e restauro para onde seguiram todas as peças de madeira; retábulos e imagens desta Igreja e lá foram restauradas. A Igreja ficou “despida” e era a oportunidade certa para a substituição da parte elétrica e de tratar das paredes interiores, era necessária uma intervenção profunda. Foram substituídas algumas portas e reparadas outras.

 

Finalmente a montagem de todas as peças já restauradas foi feita pela equipa de técnicos experientes da mesma empresa que montaram e pintaram, aplicando todo o revestimento em folha de ouro como nos explicou o Sr. Fernando Vitória, em todos os espaços que estão a amarelo que reluz como se tivesse sido colocado hoje, referiu.

 

Este trabalho demorou cerca de 2 anos, e no dia 6 de janeiro do ano de 2019 foi finalmente apresentado aos fiéis desta comunidade para alegria de todos.

 

No dia seguinte a Rádio Condestável publicava “NESPERAL – Comunidade ajuda a preservar património religioso” nesta noticia podemos ler que esteve presente nesta cerimónia D. Antonino Dias, Bispo da Diocese de Portalegre e Castelo Branco, que felicitou todos os envolvidos afirmando que a Igreja estava agora “muito mais bonita” e que estas obras são o reflexo da vontade desta comunidade paroquial, referindo que “não se mede pela quantidade de pessoas, nem pela sua área geográfica. Uma comunidade paroquial avalia-se pela sua capacidade de colaborar, participar e aqui é um testemunho belíssimo disso”. Esta obra contou ainda com a colaboração da Camara Municipal da Sertã e da União de Freguesias de Cernache do Bonjardim, Nesperal e Palhais.

 

O Padre Paulo Jorge Martins valorizou o gesto deste benfeitor que foi o empurrão necessário para que esta obra se realizasse.

 

José Farinha Nunes presidente da autarquia sertaginense nesta altura, referiu a importância de todo o património religioso ou não, existente no nosso Concelho e a importância da preservação do mesmo.

 

Nestes territórios do interior do país, este património religioso é um pilar importante para a comunidade paroquial, assumindo muitas vezes o papel de psicólogo de pessoas que vão em busca de respostas, de paz ou de algum conforto emocional.

 

Graças a uma vontade comum, a comunidade do Nesperal tem orgulho da sua Igreja que ainda precisa de uma pintura exterior e de arranjos na sua envolvente para que tudo se encontre conforme a vontade de uma gente determinada e com um sentimento de interajuda, porque só desta forma se consegue concretizar feitos desta dimensão.

 

Neste momento, não existe na União de Freguesias de Cernache do Bonjardim, Nesperal e Palhais, uma Igreja com o seu interior tão bem preservado como esta do Nesperal. Quando entramos temos a perceção de um espaço não muito amplo, mas acolhedor onde todos os pormenores foram valorizados e melhorados. O restauro recentemente realizado deu uma nova imagem a esta Igreja que está agora transformada num espaço de devoção atrativo para qualquer tipo de visitantes, porque a beleza das pinturas de parede, os retábulos barrocos de talha de Estilo Nacional e a perfeição e história das imagens, dos altares e de toda a envolvência são dignos de visita inclusivamente por pessoas não crentes.

 

Que a força destas gentes e o trabalho deste restauro sirva de inspiração para que mais obras desta natureza aconteçam por todo o nosso território, porque só assim se preservam e protegem as nossas raízes, a nossa história a identidade de um povo.

 

 

Ana Vitorino

Cernache do Bonjardim, 23 Dezembro de 2021

Fontes:

Bandeira, A. M., Meira, D. A. e Silva, P. C. M. (2016) IX Coloquio Ibérico Internacional de Cooperativismo y Economia Social – Transparência Financeira nas Paróquias Portuguesas

CIC: Catecismo da Igreja Católica. (1992)

Lei n.º 30/2013, de 8 de maio, que aprova a Lei de Bases da Economia Social.

Lopes, Rui Pedro (2013) História da Sertã

Rádio Condestável

Teixeira, Candido (1930) Antiguidades, Familias e Varões Ilustres de Sernache do Bom Jardim e seus contornos – II Volume

https://pt.wikipedia.org/wiki/Culto_crist%C3%A3o

 

Todas as fotografias são de fonte própria 07-11-2021