Bonecas de Palhais
A Histórias destes bolos, “As Bonecas de Palhais”, foi-nos contada em abril de 2021 debaixo de uma parreira de uvas á porta de sua casa, no lugar Lameira dos Reis em Palhais. Devido a pouca informação sobre este tema, fomos saber mais junto de uma protagonista que gentilmente falou sobre estes bolos e a importância que tiverem na sua vida.
D. Virgínia Rosa Ferreira Marçal acusando o peso dos seus 80 anos, mas com um sorriso no rosto foi-nos contando com nostalgia a história que estes bolos tiveram sua vida.
Casada com o Sr. João que comemoraria em brevemente as suas 83 primaveras, tiveram oito filhos e agora são seis, referiu, seguiu os paços da sua mãe e da sua avó paterna a “Tia Caseira” como era conhecida na altura.
A sua avó “A Tia Caseira” ficou viúva com quatro filhos rapazes para criar, o mais novo com quatro meses de idade, “mas ela não desistiu” referiu, com a receita destes bolos que já eram confecionados pelos seus antepassados e a ajuda dos filhos corria os três Concelhos; Sertã, Vila de Rei e Ferreira do Zêzere, de canastra á cabeça cheia de bolos sempre que havia uma festa religiosa um arraial ou um mercado.
Atravessava-se o rio Zêzere nos barcos a remos, era o transporte que havia naquele tempo. Estas Bonecas eram também confecionadas para as bodas e os batizados, iguaria que não podia faltas nestas épocas festivas para enriquecer a mesa dos convidados, e eram também oferecidos aos vizinhos nas vésperas dos casamentos com o arroz doce (tradição da altura), uma forma de celebrar a alegria do matrimónio.
A sua mãe que era casada com um dos quatro filhos da “Tia Caseira” teve duas filhas, mas só uma deu continuidade a esta tradição e meio de sustento familiar, era dona de casa e o rendimento dela chegava através da venda destes bolos da criação dos animais e dos produtos hortícolas que iam produzindo.
A D. Virgínia aprendeu com a sua mãe e com a sua avó todos os preceitos de confecionar esta receita, desde o aquecimento do forno a lenha e a temperatura certa, á forma de amassar os ingredientes até a massa estar no ponto certo, a modelagem da massa e a forma de os cozer. Todo um processo que tinha que ser executado em equipa, não era tarefa para uma só pessoa sem ajuda.
Foram muitos os quilos de farinha que a D. Virgínia amassou, de uma só vez dezoito, referiu, esta atividade era muito trabalhosa. Primeiro a confeção, depois o transporte para as romarias, festas e mercados, que era feito a pé com os cestos á cabeça e a passagem do Rio Zêzere era feita de barco a remos e depois a venda. A venda era um processo contínuo, de noite e de dia até esgotar o produto, só aí vinham para casa.
Havia festas mais importantes como o domingo de Pentecostes ou do Espirito Santo em Dornes onde se cumpre a tradição no Santuário de Nossa Senhora do Pranto recebendo o círio de Ferreira do Zêzere e de outras localidades. Estas festas antigamente duravam dias, e quando se acabavam os bolos ou já havia poucos e muito tempo de festa, ia-se a casa fazer mais uma fornada para aumentar o rendimento, “porque era este dinheiro que governava a casa”, afirmava.
As Bonecas, as Ferraduras e ou/os Bolos eram vendidos para quem queria, com café ou refresco feito no momento da venda, porque antigamente, declarou, não havia cerveja e sumos como agora. Eram tempos bem diferentes em tudo, narrou.
As Bonecas das festas já faziam parte das memorias de infância dos mais velhos com a sua textura e sabor inconfundíveis. As Ferraduras, também conhecidas como bolos das festas, partilham o mesmo sabor das Bonecas, com uma textura mais húmida e suculenta, possivelmente por serem maiores, pois são feitas com a mesma massa.
Estamos a falar de três gerações que obtiveram a sua maior fonte de rendimento com a confeção desta iguaria e desta forma governaram a sua vida e criaram os seus filhos. Este produto gastronómico era apreciado por muitas pessoas que só podiam degustar em dias festivos.
Como muitas famílias neste meio rural do interior do País, viviam do que a terra dá quando é trabalhada e da criação de animais. Palhais uma aldeia situada perto do rio Zêzere, a atividade piscatória também enriquecia a dieta destas famílias e o mel que também é um produto fortemente produzido neste território.
No entanto esta receita ancestral serviu de fonte de rendimento para algumas famílias, outras só a faziam para consumo próprio.
Os ingredientes necessários são:
– Farinha 55
– Ovos
– Canela e Erva-doce
– Açúcar
– Sal
– Fermento do padeiro
A forma de confeção:
– Inicialmente junta-se num recipiente todos os ingredientes
– Depois amassa-se muito bem e deixa-se levedar
– Molda-se a massa da forma desejada e colocasse na chapa ou nos tabuleiros de ir ao forno e deixasse levedar mais um pouco
– Por ultimo vão ao forno de lenha a cozer até ficarem douradinhos.
Era desta forma que várias famílias obtinham, graças a muito trabalho e dedicação, grande parte dos recursos monetários para o sustento familiar.
Foi assim que a D. Virgínia descreveu a história das Bonecas de Palhais que eram confecionadas da mesma massa que as Ferraduras e os Bolos redondos. A receita da “Tia Caseira” passou de geração em geração e para vizinhas e amigas e hoje, há em Palhais várias pessoas que as confecionam obedecendo á tradição de tempos mais antigos.
Cernache do Bonjardim, 7 de fevereiro de 2022
Fontes:
- https://milhoreidirecto.wixsite.com/inicial/boneca-de-palhais
- In loco, com autorização de D. Virgínia
- Imagens :APROSER Sertã
Ana Vitorino.
Newsletter
Bonecas de Palhais
Falta a imagem……NÃO CONSIGO COLAR AQUI 🙂